Enquanto as grandes cidades concentram investimentos em tecnologia e cultura, é nas franjas do país — nos interstícios menos visíveis do mapa — que surgem iniciativas resilientes e inventivas. A ARADO — Associação de Radioamadores do Oeste, com sede discreta em Asseiceira, é um desses exemplos de cidadania ativa e versatilidade local que merecem maior atenção.
Formalmente uma associação de radioamadores, a ARADO revelou, durante o Estado de Emergência de 2020, uma capacidade de reinvenção pouco habitual entre organizações do seu género. Diante de um país em confinamento, onde a vida cultural ficou suspensa e a comunicação presencial interditada, a associação respondeu não apenas com ondas hertzianas, mas com programação cultural que uniu rádio, teatro, dança, música e intervenção comunitária.
Sob o lema implícito de “em tempos de silêncio, que se faça ouvir a cultura”, a ARADO colaborou com artistas, plataformas e instituições para dar corpo ao programa “Emergência Cultural”. O resultado foi uma manta multicolorida de iniciativas, com nomes tão diversos quanto MusicÁlareira, Conta Comigo Vai a Casa, Serenidade ou A Rota da Seda em Casa. As iniciativas refletiam mais do que entretenimento; eram uma tentativa de preservar a saúde cultural e emocional da comunidade num momento em que o isolamento ameaçava a coesão social.
É raro ver uma associação de radioamadores alinhar-se com propostas como Útero | Are We Human? ou Prefácio ao Sermão da Sexagésima, colocando-se como mediadora entre tecnologia de comunicação e performance artística. Esta elasticidade é, em si, uma virtude institucional que contrasta com a rigidez burocrática que frequentemente paralisa outras entidades locais.
Com modestas infraestruturas mas ambição considerável, a ARADO provou que o rádio pode ser mais do que um canal de comunicação: pode ser palco, sala de aula e espaço de encontro. Ao colaborar com figuras como Ruy de Carvalho, Catarina Molder e Rui Pinheiro, ou coletivos como a Camerata Vocal de Torres Vedras e a Tuna Comercial Torreense, a associação soube reforçar o papel do Oeste como zona de cultura participativa.
A par da arte, mantém-se firme a missão central da ARADO: fomentar o radioamadorismo na região, garantindo que a tradição técnica e o espírito colaborativo das comunicações permaneçam vivos. E se o futuro exigir novamente uma resposta coletiva à emergência — seja ela sanitária, climática ou social — é reconfortante saber que na Rua da Portela, nº12, há uma pequena organização que sabe como responder.












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